Estrutura e Características


A estrutura do Livro

I. Vocação para o profetismo: 1,1-3,27;

II. Oráculos de ameaça contra Judá e Jerusalém: 4,1-24,27;

III. Oráculos contra as nações: 25,1-32,32;

IV. Oráculos de salvação para Israel: 33,1-39,29;

V. Novo reino, novo templo e novo culto: 40,1-48,35.

Características Literárias

No livro encontramos várias visões, ações simbólicas, parábolas e alegorias. É certo que os outros profetas também as empregam; mas, em Ezequiel, estes processos literários têm aspectos característicos muito especiais.

Assim, as visões são mais extensas e escritas com mais pormenores do que as dos seus colegas. Por exemplo, Isaías e Jeremias também tiveram visões, que lhes indicaram a vocação para o profetismo; mas, essas experiências, simples e discretas, não têm a grandiosidade das de Ezequiel. Numa visão um tanto complexa e misteriosa, que teve do carro de Deus (1-3), o profeta contemplou a glória do Senhor. Contudo, evita falar dos elementos divinos de maneira humana; diz sempre «eram algo como», «assemelhavam-se a», etc.

Outras visões grandiosas foram a dos ossos ressequidos (37), que traduz bem o seu talento poético, e a das faltas de Jerusalém (8-11). Nos capítulos finais (40-48) apresenta a visão do novo Reino de Deus; descreve o templo futuro, fala da nova lei e do culto, como verdadeiro legislador, e divide a Palestina entre as tribos de Israel, à maneira de autêntico senhor.

É costume dizer-se que Isaías é o profeta da razão e do raciocínio, que Jeremias e Oséias são os profetas da sensibilidade, e Ezequiel é o profeta das visões, da imaginação e do simbolismo. Na alegoria da leoa e dos leõezinhos (19,1-9), na da videira estéril (15) e nos quadros simbólicos, que descrevem a história de Israel (16 e 23), nota-se bem a sua prodigiosa imaginação.

As ações simbólicas são também frequentes em Ezequiel. Por meio delas desperta a atenção dos ouvintes e ele mesmo dá a interpretação, sempre que lhe pedem (12,9; 21,12; 24,19; 37,18). O cerco de Jerusalém (4), o aniquilamento do povo até se tornar um pequeno resto (5,1-4), a ida para o cativeiro (12,1-7), as dificuldades do cerco (12,17-20), o terror causado pelo anúncio da ruína da cidade (21-22), a hesitação do rei da Babilônia quanto à escolha do caminho a tomar (21,23-28), a impossibilidade de se lamentarem pela queda de Jerusalém (24,15-24) e a reunificação dos reinos (37,15-22), são os acontecimentos anunciados nessas ações simbólicas.

As parábolas e alegorias são também frequentes neste livro. Algumas delas possuem uma rara beleza poética e sobressaem pela sua extensão e riqueza de pormenores. Assim, a parábola de Jerusalém comparada a uma mulher adúltera (16); a das duas irmãs infiéis e prostitutas, acerca da Samaria e de Judá (23); a da videira estéril, sobre Judá (15); a da águia, acerca de Nabucodonosor (17,3-7); a da leoa e dos leõezinhos, sobre Judá (19,1-9); a da videira plantada por Deus, sobre Judá (17,1-10; 19,10-14); a da floresta incendiada, sobre Jerusalém (21,1-5); a do navio que naufraga, acerca de Tiro (27); a do crocodilo, sobre o Egito e o faraó (29,1-6; 32,1-8); a do cedro que é arrancado, sobre o faraó (31). A extraordinária veia poética de Ezequiel e a sua prodigiosa imaginação estão bem patentes em todas estas parábolas.

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